Engraçado como em tempos
era uma luta a hora de deitar, sempre abraços e beijos que duravam e que
nasciam uns seguidos de outros. Histórias e mais histórias…o livro tinha 365!
Engraçado como depois veio
o tempo em que, simplesmente, não precisavas de usar o teu mimo sobre nós, para
saberes que a hora para descansar, era aquela.
Isso foi ontem, há uns dias,
talvez semanas, não sei. Mas já tenho saudades desse tempo…
Agora, mais crescida,
fizeste os teus horários, e não mais foi preciso inventar ladainhas, os beijos
são curtos e os abraços…ai os abraços…se ao menos compreendesses que a minha
melhor joia são os teus braços pendurados no meu pescoço…
Zangas-te comigo quando
digo que tenho saudades tuas, mesmo quando estamos lado a lado.
E sabes porquê?
Porque o teu lado é,
algumas vezes, o avesso do meu lado e antes éramos um só lado, porque eras
pequenina demais para reconheceres que afinal existiam outros lados…
Mas sabes, no meio de
tanta turbulência, ainda tenho a lucidez suficiente para entender que é assim
mesmo.
Que o tempo que nos
divide, que as idades que nos distanciam, não nos separam realmente, são dois
lados, mas que no fim se encontram.
Crescer é assim, simples
e tão complicado.
Nem sempre consigo absorver tudo o que me contas, tudo o que me ensinas.
O ritmo é acelerado.
Falas-me ao ouvido sobre as amizades, sobre os rapazes (e se eles tem razão para ficar sem palavras diante de ti), sobre a escola, sobre as tuas bandas favoritas, sobre os medos e as alegrias, sobre tudo e sobre nada.
Eu, eu só te consigo ouvir com o coração.
Lembro-te da calma
necessária aos teus dias.
Tal como um rio que tem o
seu remanso e se apressado causa desastres!
Tal como a serenidade que
tenho, e que tantas vezes me falta, em controlar o meu medo de precisares de
mim e eu não te chegar.
Zangas-te comigo, sim, algumas
vezes. Não digo todos os dias porque isso ficaria mal dizê-lo aqui…e olha, já
disse!
A culpa não existe..
Existe apenas a minha exigência para contigo, a minha exigência em seres a
melhor versão de nós.
Vais sê-lo. Já o és em
alguns contornos da tua emancipação que já se sente.
Não te quero falar de
sonhos, quero mostrá-los, quero ensinar-te os caminhos para os alcançares e
sim, o tropeço faz parte.
Sabes, aquele carrossel?
Pois então és o cavalinho que esteve preso e que agora, livre, usa a bagagem
que aprendeu e aprende, da melhor maneira que sabe e pode.
O carrossel, a sua casa,
estará sempre lá e ele será sempre livre para retornar as vezes que quiser.
Mas lembra-te, meu amor, esse cavalinho, ainda que livre, ainda é um cavalinho que precisa de crescer e aprender muito. É um cavalinho que só agora começou a sua corrida.
Sabes que tenho os olhos
pincelados de saudade quando te olho em criança? Até quando te olho hoje?
Sabes que dói aqui no
peito saber-te com as dores da vida?
Sabes que gosto de ti sem
que existam palavras capazes de te mostrar o quanto?
Sabes que sou grata todos
os dias por te ter?
Sabes que, faças o que
fizeres, nada arranca de mim o que sinto por ti?
Zangas-te comigo sim.
E eu, pequenina diante
deste amor que me dás a sentir, fico dormente com os teus gestos, com as tuas
palavras tortas que são meras provas que vives a adolescência da forma como
todos devemos viver, intensamente, a única forma que vale realmente a pena.
Zangas-te comigo.
Por vezes soa a
ingratidão, mas entre gritos e respostas tortas, estamos nós, a mãe e a filha,
e o amor que nos une, GRANDE!
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