quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O cavalinho que se zanga comigo...

Engraçado como em tempos era uma luta a hora de deitar, sempre abraços e beijos que duravam e que nasciam uns seguidos de outros. Histórias e mais histórias…o livro tinha 365!

Engraçado como depois veio o tempo em que, simplesmente, não precisavas de usar o teu mimo sobre nós, para saberes que a hora para descansar, era aquela.

Isso foi ontem, há uns dias, talvez semanas, não sei. Mas já tenho saudades desse tempo…
Agora, mais crescida, fizeste os teus horários, e não mais foi preciso inventar ladainhas, os beijos são curtos e os abraços…ai os abraços…se ao menos compreendesses que a minha melhor joia são os teus braços pendurados no meu pescoço…

Zangas-te comigo quando digo que tenho saudades tuas, mesmo quando estamos lado a lado.
E sabes porquê?
Porque o teu lado é, algumas vezes, o avesso do meu lado e antes éramos um só lado, porque eras pequenina demais para reconheceres que afinal existiam outros lados…

Mas sabes, no meio de tanta turbulência, ainda tenho a lucidez suficiente para entender que é assim mesmo.
Que o tempo que nos divide, que as idades que nos distanciam, não nos separam realmente, são dois lados, mas que no fim se encontram.

Crescer é assim, simples e tão complicado.
Nem sempre consigo absorver tudo o que me contas, tudo o que me ensinas.
O ritmo é acelerado.

Falas-me ao ouvido sobre as amizades, sobre os rapazes (e se eles tem razão para ficar sem palavras diante de ti), sobre a escola, sobre as tuas bandas favoritas, sobre os medos e as alegrias, sobre tudo e sobre nada.
Eu, eu só te consigo ouvir com o coração.

Lembro-te da calma necessária aos teus dias.
Tal como um rio que tem o seu remanso e se apressado causa desastres!
Tal como a serenidade que tenho, e que tantas vezes me falta, em controlar o meu medo de precisares de mim e eu não te chegar.

Zangas-te comigo, sim, algumas vezes. Não digo todos os dias porque isso ficaria mal dizê-lo aqui…e olha, já disse!
A culpa não existe.. Existe apenas a minha exigência para contigo, a minha exigência em seres a melhor versão de nós.
Vais sê-lo. Já o és em alguns contornos da tua emancipação que já se sente.

Não te quero falar de sonhos, quero mostrá-los, quero ensinar-te os caminhos para os alcançares e sim, o tropeço faz parte.

Sabes, aquele carrossel? Pois então és o cavalinho que esteve preso e que agora, livre, usa a bagagem que aprendeu e aprende, da melhor maneira que sabe e pode.
carrossel, a sua casa, estará sempre lá e ele será sempre livre para retornar as vezes que quiser.
Mas lembra-te, meu amor, esse cavalinho, ainda que livre, ainda é um cavalinho que precisa de crescer e aprender muito. É um cavalinho que só agora começou a sua corrida. 

Sabes que tenho os olhos pincelados de saudade quando te olho em criança? Até quando te olho hoje?
Sabes que dói aqui no peito saber-te com as dores da vida?
Sabes que gosto de ti sem que existam palavras capazes de te mostrar o quanto?
Sabes que sou grata todos os dias por te ter?
Sabes que, faças o que fizeres, nada arranca de mim o que sinto por ti?

Zangas-te comigo sim.
E eu, pequenina diante deste amor que me dás a sentir, fico dormente com os teus gestos, com as tuas palavras tortas que são meras provas que vives a adolescência da forma como todos devemos viver, intensamente, a única forma que vale realmente a pena.

Zangas-te comigo.

Por vezes soa a ingratidão, mas entre gritos e respostas tortas, estamos nós, a mãe e a filha, e o amor que nos une, GRANDE!


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