quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Entre o céu e o inferno


Dói-me muito a alma, sobretudo o coração que vive minguado por tudo o que os meus olhos lhe transmitem.

Tenho o meu país a arder, parece um canto no mundo entregue a si mesmo e resignado ao seu destino. Entra-me pela casa adentro as lágrimas, o sofrimento e a angústia pelo desconhecido, do que pode ainda fica pior…

Dói-me de uma forma que me corrói, que me faz perguntar tantas e tantas vezes porquê.

O desespero sem descrição possível, a perda do ninho, da família, ver paredes que guardam histórias morrerem nas chamas, ver morrer uma casa, um quintal, ver morrer Portugal, devagar, em tormento!

Os homens e mulheres de força tamanha que protegem a terra e as vidas numa luta inglória…

Impossível imaginar a mágoa, o desgosto. Ver os velhos sentados, apoiados na bengala, resignados e completamente destruídos por dentro e por fora…de repente o sumiço da única vida que conhecem, ou conheciam. O medo da privação maior ainda. Corações devastados.

O país vai erguer-se, eu sei que sim, tal como fez em outros momentos, mas os rasgos que deixa em nós são irreparáveis e não é fobia ou amedrontamento.

Os rasgos que ficam em nós, naqueles que lhes morreram o berço, o refúgio, o seu porto de abrigo, que ficaram sem chão, são impossíveis de sarar. Quem perdeu tudo dificilmente voltará a saborear a leveza da paz que um campo verde, são e vivo pode transmitir. O remanso dos campos, a quietude da floresta, o perfume que emana das árvores.

São muitos os dias em que se olha o céu, em silêncios que tudo dizem, e tudo o que se vê é uma faixa de luto. Morreu-lhes a terra, morre-nos Portugal.

Passar nos montes, recordar o verde, os pastos, os animais livres. Neste lugar tudo o que vejo é negro, triste…tudo o que consigo fazer é olhar e ficar em silêncio, tudo o que consigo sentir é dor…

Por favor, chega!!!