sexta-feira, 24 de março de 2017

Sobreviver

Ela era uma jovem mulher.

Até ali, muita coragem ganhou para enfrentar a vida de frente, com muita resiliência.

Mulher sofrida, desde que nasceu, mas sempre de sorriso nos lábios. Pessoa feliz e que sempre aceitou o que o destino lhe destinou , embora, nunca fazendo das suas limitações, justificação para o que quer que fosse. Antes ficou mais forte!

Casou.

Foi mãe.

Foi feliz.

Cresceu uma mulher, com tudo o que isso significa – sorrisos, lágrimas, alegrias e deceções.

A vida pregou-lhe uma rasteira, ou não, pois acredito que muito do que nos faz rasgões no coração, abre-nos os olhos a outras realidades, melhores ou, pelo menos, não tão dolorosas como aquelas que se viveram até ali. Aprende-se uma lição.

Esta mulher que hoje se sente um farrapo, daqueles cheios de buracos e desbotados por causa de tudo o que já viveu e ainda vive, é a jovem mulher de outrora, coberta de garra e esperança. Destemida e muito dona do seu nariz, o que, para mal dela, nem sempre foi bem entendido por outros.
Mas ser determinada em vez de submissa é um ato de valentia.

Hoje é mãe divorciada e, por isto mesmo, por ter tido a grande coragem de sair da sua zona de conforto e de acreditar que ainda pode ser feliz, achando que merecia uma nova vida, sem pesos…temendo ficar sozinha e perder tudo, perder nada, sentir a força do arrependimento…lançou-se na busca dessa mesma felicidade.

O arrependimento não chegou nem nunca chegará, sabe disto cada vez que respira…mas os pesos que uma separação pode trazer são demasiados, não por ela, mas por todos os outros que, por loucura ou ilusão, não possuem a capacidade de aceitar que a vida é dela apenas, que, embora muito torturada por fatores psicológicos, completamente corroída por dentro e dorida por fora, ainda luta, numa guerra cujos combatentes não sabem baixar as armas e aceitar que a decisão, a busca e a esperança não se alteram.
Podem arremessar gestos abruptos, palavras intoleráveis, mas ela ainda luta, sem tréguas algumas, sem dias e noites de paz, ela ainda luta. E parece-me que esta guerra que ela nunca desejou ainda a irá desgastar muito mais. Por agora sei que a pessoa resiliente de antes, está frágil, desesperançada…

Ela sabe que estou aqui, como outras pessoas estão, mas pouco ou nada podemos fazer. É uma guerra solitária, não porque lute sozinha, mas porque os adversários estão sedentos de conflito, cegos por alcançar a vitória.

No final desta guerra só existirão perdedores…quero acreditar que ela, a mulher determinada, vai sobreviver.

A ti, mantém a bravura!

A ti: amar é deixar ir, quando já não cabemos...

Ao pequenino: protegem-no em primeiríssimo lugar, ele não pediu esta guerra!




sexta-feira, 10 de março de 2017

Atrasada 16 anos!

Nesta vida de encontros e desencontros temos, tantas vezes, agradáveis surpresas. Daquelas que nos fazem brilhar os olhos e iluminam um bocadinho mais a nossa existência aqui. 

Separações dão-se, algumas sem razão aparente e depois, porque assim estava escrito, tudo nos conduz para aquela pessoa novamente.

É assim no amor e é assim na amizade.
Foi assim com a minha amiga D.

Lembro-me muito bem das circunstâncias em que nos conhecemos, onde estávamos e no turbilhão de sentimentos que nos invadia individualmente. 

A D falou-me baixinho por cima do meu ombro esquerdo. Recordo-me das palavras que disse...
Não me perguntem como é possível ainda me lembrar disto, mas a verdade é que lembro, mesmo passados 24 anos!

Durante quatro anos esta amiga foi a minha bengala em momentos tristes, embalava-me tanto...e em nenhum momento me abandonou para os meus medos e inseguranças. Compactuávamos em tudo, e quando digo tudo, era mesmo assim. Lambia-mos as lágrimas uma da outra. As que caiam pela tristeza e as que caiam pela alegria.

Hoje, pergunto-me se estive à altura para servir também de bengala a ela...não sei, mas a verdade é que nos perdemos uma da outra entre os tumultos da vida.

Lamentei-me por esta perda. Durante todo tempo fez-me muita falta o seu abraço e o seu sorriso.
E agora...o reencontro deu-se, num ápice, tal como no dia em que nos conhecemos, de forma inesperada.

Tanto para conversarmos, tanto para nos mimarmos...vou contar-te um segredo...vou chorar quando te der o abraço que está atrasado 16 anos!

A amizade não é sobre quem veio antes ou quem veio depois, mas sim sobre quem veio e nunca foi embora do nosso coração, como tu.

Por todas as risadas, por todos os segredos, por todas os abraços, por todas as lágrimas e por todos os momentos que vivemos e que vamos repetir, tinha de te falar de tudo isto.

Estou à tua espera.




O caminho da bonança

A tempestade foi grande, chegou de repente sem aviso prévio.
Mas antes dela poder ser vista, algo me fazia senti-la...uma centelha despertava-me, mantinha-me alerta.
Fazia de conta...uma e outra vez. Até que chegou.

Foi um mergulho profundo, daqueles que ninguém nos ensina a técnica de como guardar em nós todo o oxigénio até voltarmos à superfície.

Foi difícil, muito doído. Ainda é, mas ficamos todos mais fortes, mais capacitados a enfrentar as fragilidades de cada um.

A vida mostrou-me o tanto que se consegue suportar, mesmo quando sentimos as feridas (as nossas e as dos outros) rasgarem a pele, penetrarem fundo na carne e ali ficarem, queimando e alastrando vagarosamente para que a tortura seja ainda maior. Dói o corpo, dói a alma.

Mas neste caminho crescemos, as transformações foram necessárias e as várias lutas travadas também. Nele ninguém ficou só, mesmo que em alguns momentos se sentisse desacompanhado e desprotegido. Eu senti.

Sei que estas tempestades nos despertam e não se esquecem, por serem estrondosas, deixam marcas para sempre, mas também arrumam a nossa cabeça e coração e, tal como na natureza, voltamos a florir e a crescer.

Renascer, aprender sobre a tranquilidade, amadurecer e aceitar.

Este caminho ainda não chegou ao fim, mas já existem sorrisos nas margens do percurso e isso deixa-me a transbordar de orgulho, de ti, meu amor! É a bonança.

O que estás a construir é só mérito e força interior que emana de ti.

E eu, eu ainda estou a aprender a ser a mãe que precisas, sei agora que isso não passa pela dependência, tua e minha, mas sim pela liberdade de ambas e pelo respeito na diferença.

E mesmo entre tempestades, este bem querer que sinto por ti, cresce e vai curando as feridas, as minhas e espero que as tuas também.




quarta-feira, 8 de março de 2017

Sou aço, mas também flor

Parabéns a mim e a ti.
Parabéns a nós mulheres, lindas e indispensáveis!
Malucas por sapatos, malas, cremes... que sempre precisam de alguma coisa. 

Somos flor, mas também aço.
Grandes na fragilidade, mas maiores na força!

Esta sou eu, mulher cheia de sonhos, de vontades, erros e medos.
Mulher com fraquezas, mas de caminhos firmes, embora nem sempre fáceis.

Esta sou eu, feita de contrários legítimos que assumo e os grito todos os dias.
Sou forte sim, sou de exageros sim, não tolero a falta de respeito, a submissão...
Jamais serei estoica, embora tente superar-me em algumas vezes...

Sou resistente, mas o apego dedicado, a benevolência, são a minha fraqueza.
Porque sou aço, mas também flor!