quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A Paz

Um dia destes observava a minha mãe e o meu pai e admirava-os em toda a sua plenitude.
Estão nos 70 anos e contínuo fascinada pela sua força perante todas as lutas que já travaram e ainda travam, perante as injustiças que nunca os levou a desistir.

Olho para eles e penso muitas vezes, por muito tempo, como sobrevivem a um coração partido múltiplas vezes, pela partida de tantos, mas, em especial, pela partida dos seus pais, meus avós. Como sobrevivem a tal dor que dilacera o peito, como sobrevivem à saudade, à tristeza...à ausência.

E depois, depois tento entender. 
A vida prossegue, tem de prosseguir, intensamente, corroída pela guerra interior. E isso faz crescer a revolta, afinal viver a partida de um pai e de uma mãe, não se acolhe nunca.

Os meus pais serão sempre as pessoas que eu mais admiro. São o meu exemplo, o colo que tanto preciso e tranquiliza-me saber que, quando travo batalhas, eles esperam-me de braços abertos, mesmo quando eu não estou certa. Jamais conseguirei exercer os seus papéis como eles o fazem, honestos, possantes, sólidos, firmes, vivos e valentes.

O que eles me oferecem todos os dias, não sei se consigo dar à minha filha quando ela alcançar a minha idade, mas quero muito consegui-lo.

Infelizmente tenho em mim um mau hábito - sofrer (muito) por antecipação - e é tão severo este sentimento, que sinto o coração a disparar. Mas depois encontro a paz, a mesma que os meus pais me ensinaram a encontrar. 

Inquieta-me muito escrever sobre medos que vivem dentro de mim.
Mas fazê-lo liberta-me do pânico de sabe-los reais.
Este é o lugar certo.