terça-feira, 28 de julho de 2015

É assim todos os anos

É assim sempre. É assim todos os anos.
Dói-me tudo, a pele e todas as minhas entranhas.
Vivo em excesso dentro de mim.

É assim quando estou cansada, penso no ano que fica para trás, desde o verão passado.
Algumas coisas diferentes, outras iguais. Outras maiores que o meu tamanho.
Pensar nos dias, pesar a importância das coisas, tentar afastar medos, gerir a vida, controlar o desapontamento e acalmar-me, acalmar sobretudo este coração que sente, tão intenso.

Estou aqui, mas já só penso no céu azul, na areia na pele, no sol dourado sobre mim, no cantinho de paraíso que tenho a sorte de ter, no descanso e no momento em que desligo a ficha das rotinas diárias e deixo de olhar o relógio. Já só penso nos dias passados com os meus amores, gostar e viver sem pressas. 

É assim sempre. É assim todos os anos. 
Até chegar, parece tão longínquo que quase desespero.
Vão chegar, eu sei, e vão passar depressa demais, tão depressa que as horas do depois me vão doer sobre a pele. 

Eu sei que há quem não tenha dias de tempo para gostar e viver sem pressas, ou que tenha estes dias de tempo forçado (por não ter trabalho). Sou uma pessoa má por me lastimar assim, mas por hora, deixem-me fazê-lo.
Sou mimada, pois sou, mas estou-me nas tintas.
Sinto o peso de uma ano alucinante nos ombros e o coração a suplicar por ar puro e "des-stress"! 
Posso lastimar-me!

Resta-me respirar, respirar bem fundo e ouvir o que trago aqui dentro.
Ser paciente e aprender ainda muito sobre a espera.
Afinal a contagem é sempre decrescente!

Sou só eu a pensar assim?



segunda-feira, 20 de julho de 2015

Não há palavras para aquilo que sinto

Escrever sobre ontem, seria o mesmo que atropelar letras ou escrever sobre o que nenhuma palavra consegue descrever.
Por isso é muito o que me deste a sentir ontem, mas pouco o que consigo agora escrever.

Enquanto te olhava, eu pequenina e tu tão grande que, embora só, enchias o palco, sentia o meu coração aos pulos e a minha alma coberta de orgulho, eu sou a tua mãe, mãe de uma pessoa assim, com uma vontade tão bonita de crescer...com uma força a brotar, atrás do sonho...

Hoje estou ainda a resgatar pedaços de mim, aqueles que ficaram presos ali, no chão, enquanto te via explodir de alegria...cada toque, cada acorde, enquanto soltaste a voz e gritaste a quem te quis ouvir o quanto podes, o quanto és! 

És muito mais do que os meus olhos conseguem ver, e ainda assim olho-te e sinto-me completa.




sexta-feira, 17 de julho de 2015

O teu barquinho no meu porto

Tu, sim tu, que me lês ora sempre, ora nunca.
Tu, sim tu, que me ouves de vez enquanto.
Tu, sim tu, que te trago sempre em mim...de quem dependo para ser feliz.

Quando tiveres a minha idade, quando fores mãe, quando fores a filha que sentirá saudades dos dias em que vivia debaixo do mesmo tecto que os pais...

Quando te sentires limitada na concretização dos teus sonhos e te apetecer gritar, só porque sim...e ainda assim, avançar, sem desistir...
Quando, em algum momento te achares realmente uma super mulher, acredita que o és realmente e não deixes que ninguém te faça duvidar de tamanho feito.

Quando olhares os teus filhos, enche-te de coragem para a vida, ainda mais coragem. A mesma que pensaste outrora não ter.
Perdoa-lhes se são bravos contigo, se não te dão os abraços que precisas, se têm palavras tortas para ti.
Se te magoam.
Perdoa-lhes. Mesmo que sangres por dentro. Mesmo que duvides de ti e do trabalho que fazes para lhes incutires os valores certos.  

Quando eles crescerem, virão as saudades e prepara-te, porque elas nunca acabam, serão sempre maiores e mais difíceis de sentir.
Vai haver momentos em que te sentirás sozinha, aí, podes sempre pedir-lhes guarida nos seus braços, entre os muitos beijinhos que ensinarás. 

Tu, sim tu...
Quando fores mãe, vais recordar o muito que te dou a sentir, vais entender porque dentro deste coração há muitas alegrias, orgulho, amor, os teus abraços e os beijinhos todos que te ensino, mas também a dor da saudade. Uma saudade comum a todas as mães.
Mas não te preocupes comigo agora, a sério!
Vais aprender a viver com isso, tal como eu aprendo em todas as horas.

Abraça apenas este sentimento que tenho por ti.
Absorve alguns dos meus conselhos e cresce. Cresce com a certeza de que um dia, no dia em que nasceres mãe, tudo mudará para sempre em ti, dentro de ti.

Por agora, tenta entender esta saudade, pousa no meu colo, no ventre que te deu a vida e gosta de mim, só um bocadinho do tamanho que eu gosto de ti, só um bocadinho porque o que eu gosto de ti não cabe em mim, não cabe no mundo, nem em nenhum peito.

Lembra-te sempre que este amor que trago no peito não sai nas radiografias e que por vezes pode ser um porto solitário, mas ainda assim aberto quando nele precisares de atracar para beberes de mim toda a força que necessitas.

Mas não te preocupes comigo agora, a sério!
Só peço que entres no teu barquinho mais vezes e visites este porto sempre aberto para atracares!
Quando viveres tempestades ou simplesmente para respirares a calma da minha maré.





quinta-feira, 9 de julho de 2015

Uma vida/Mil lições - Parte IV


Parte I aqui.
Parte II - aqui.
Parte III aqui.

Ser sozinho

Quando a vida sorri mas o coração não vê. Quando a vida oferece segundas oportunidades e a cabeça está de tal forma fechada que o peito opta pelas escolhas erradas. As prioridades não estão na ordem certa.

Quando a vida passa lentamente, os erros repetem-se e não se abraça a ajuda oferecida, os conselhos, os pedidos...nada é suficientemente forte sobre determinados vícios, sobre determinadas escolhas.


A vida passa. Ele sempre lá, igual a si mesmo, como sempre o conheci, entregue às horas dos dias, entregue à sua fraqueza.


A vida passou, acabou para ele.

Ficamos nós,  família, amigos, conhecidos.

Questionamos o sentido das coisas, o sentido da nossa existência.

Questionamos se poderia ser diferente alguma vez.
Não sei. Por vezes escolhemos a distancia para não doer...para não doer mais. E afinal vai doer sempre.

E quando não há mais remédio, julgamos que podíamos ter feito mais. Julgo que podia ter feito mais...


Ali, numa cama que não a dele, preso a tubos que o prendiam à vida, a esta vida, olhava-o com angustia, com tristeza e com lamento pelo seu percurso entre nós.
Olhar as fotografias deixadas, abandonadas, os olhos perdem a força.
Um nó no estômago.

Um dia, mais um na sua curta vida, disse-me que agora é que era. Tudo estava diferente. Não sei se pela solidão em que se encontrava, não sei se pela porcaria dos tubos que o amparavam, mas disse-o. Disse-o e eu quero acreditar.
Não seria tarde para realizar sonhos, para ser a pessoa que todos desejávamos que fosse.
Mas o coração, o mesmo que não viu como pode ser bela a vida, não quis mais bater por ele.
Cansou-se, e não tive tempo de lhe mostrar o quanto lhe estou grata...quem me conhece sabe porquê...é nessa gratidão que sei que teve amor na sua vida.

Gostava de poder dizer que deixou saudade, mas a sua ausência desta vida, há muito que tinha sido feita.
Fica a falta. O seu lugar está, de qualquer forma, na nossa recordação.

Onde quer que esteja agora, que esteja em paz. Que a viagem até ela tenha sido feita sem mais dor, sem fraqueza.
Ser sozinho acabou.

A ele, uma beijoca, as últimas palavras que lhe ouvi.


Demorou algum tempo até escrever estas linhas. Sabia que tinha de o fazer.
Só precisava de sentir, de organizar esta miscelânea de sentimentos.