quinta-feira, 9 de julho de 2015

Ser sozinho

Quando a vida sorri mas o coração não vê. Quando a vida oferece segundas oportunidades e a cabeça está de tal forma fechada que o peito opta pelas escolhas erradas. As prioridades não estão na ordem certa.

Quando a vida passa lentamente, os erros repetem-se e não se abraça a ajuda oferecida, os conselhos, os pedidos...nada é suficientemente forte sobre determinados vícios, sobre determinadas escolhas.


A vida passa. Ele sempre lá, igual a si mesmo, como sempre o conheci, entregue às horas dos dias, entregue à sua fraqueza.


A vida passou, acabou para ele.

Ficamos nós,  família, amigos, conhecidos.

Questionamos o sentido das coisas, o sentido da nossa existência.

Questionamos se poderia ser diferente alguma vez.
Não sei. Por vezes escolhemos a distancia para não doer...para não doer mais. E afinal vai doer sempre.

E quando não há mais remédio, julgamos que podíamos ter feito mais. Julgo que podia ter feito mais...


Ali, numa cama que não a dele, preso a tubos que o prendiam à vida, a esta vida, olhava-o com angustia, com tristeza e com lamento pelo seu percurso entre nós.
Olhar as fotografias deixadas, abandonadas, os olhos perdem a força.
Um nó no estômago.

Um dia, mais um na sua curta vida, disse-me que agora é que era. Tudo estava diferente. Não sei se pela solidão em que se encontrava, não sei se pela porcaria dos tubos que o amparavam, mas disse-o. Disse-o e eu quero acreditar.
Não seria tarde para realizar sonhos, para ser a pessoa que todos desejávamos que fosse.
Mas o coração, o mesmo que não viu como pode ser bela a vida, não quis mais bater por ele.
Cansou-se, e não tive tempo de lhe mostrar o quanto lhe estou grata...quem me conhece sabe porquê...é nessa gratidão que sei que teve amor na sua vida.

Gostava de poder dizer que deixou saudade, mas a sua ausência desta vida, há muito que tinha sido feita.
Fica a falta. O seu lugar está, de qualquer forma, na nossa recordação.

Onde quer que esteja agora, que esteja em paz. Que a viagem até ela tenha sido feita sem mais dor, sem fraqueza.
Ser sozinho acabou.

A ele, uma beijoca, as últimas palavras que lhe ouvi.


Demorou algum tempo até escrever estas linhas. Sabia que tinha de o fazer.
Só precisava de sentir, de organizar esta miscelânea de sentimentos.

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