As borboletas que ele lhe
dava a sentir na barriga deram-lhe um filho…e foi tudo o que ele lhe deu, as
borboletas que voaram e fugiram, e o filho que não conheceu..
De aliança no dedo e com
a promessa de que seriam felizes para sempre…
Ele tinha um percurso
profissional de excelência. O que ganhava era suficiente para ambos. Ela deixou
o trabalho que até a realizava, por ele, pelo filho.
Ela vivia para ele, em
função dele e ainda assim, tudo o que fazia era insuficiente e medíocre.
O primeiro sinal surgiu
quando ela simplesmente mudou a cor do batom. Como? Sem lhe pedir a opinião?
Par quê, se ele a queria com a cor de sempre? E vermelho? É cor de p…!
Depois vieram outros
sinais…uma gargalhada despropositada, um jantar com as amigas que queria tanto
ir e ao qual não lhe foi dada permissão…
Um empurrão para a colocar
no lugar, um estalo para acordar e ter a certeza de que ali, ali não era ninguém!
Ali não lhe era permitido
ser mulher!
Aos olhos dele, ela era a
sua servente.
Um casamento, um filho no
ventre e uma prisão, da qual não sabia como fugir.
Tinha vergonha. Afinal onde
estava aquela mulher forte, que até tirou um curso superior, frequentou aulas de
autodefesa e que era feliz, realizada e independente?
Agora era apenas uma
amostra de tudo o que fora…
Malditas borboletas que a
cegaram. Maldita a esperança que ouviu sempre, ser a última a morrer. Não foi.
Tinha vergonha de se
queixar. Não podia, ela aceitou-o com a promessa que seria amada e respeitada…e
acreditou até ao fim..
A barriga cresceu, mas as
dores da alma superavam sempre as dores físicas, e se estas eram muitas.
Disfarçava-as com a
maquilhagem só permitida por ele, para esconder a sua demência.
Disfarçava-as com o seu
sorriso triste que era suspeito aos olhos de alguns.
Perguntavam, desconfiavam.
Respondia sempre que não. Que era apenas o cansaço da gravidez…
Uma noite, mais uma em
que ele chegaria tarde, ela sentia-se extremamente cansada. Estaria para breve
o nascimento do seu filho, seria isso? Adormeceu.
Acordou, sentiu escorrer
sobre si qualquer coisa quente, sentia-se zonza. Abriu os olhos e só o via a
ele. Estava zangado, muito zangado.
Gritava qualquer coisa
sobre o jantar e o fato dela ser uma p… que nada fazia!
…Ah sim, o jantar…adormeceu
de cansaço e não acordou até agora…
Ele continuava aos
gritos. Ela lembra-se da dor forte no baixo ventre, de estar zonza…tentou
dizer-lhe, mas a voz sufocava.
Olhou melhor, entre os
olhos que mal conseguia abrir e viu a cor vermelha na almofada, a mesma do
batom que usara apenas uma vez.
Não era batom…
O filho que afinal é uma
filha, ainda hoje guarda um bilhete, que o médico que a viu nascer recebeu da
sua mãe, entregue às escondidas do pai…disse-lhe o médico que, quando o guardou, estava molhado pelas lágrimas da mãe, mas tinha um cheiro a esperança no
futuro.
O bilhete dizia apenas: meu
amor, entre um homem e uma mulher só o coração pode bater. Sê feliz.
Para ela, a esperança não
foi a última a morrer e isso levou-a.
(Esta é uma história que
escrevi sem me basear em fatos reais. Escrevi-a para servir de alerta!)