quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Sobre a adolescência

Houve um tempo em que a íamos buscar ao colégio e ela ansiosa pelo nosso abraço, pelo nosso colo.
No bolso do bibe, às risquinhas vermelhas e brancas, trazia as pedrinhas que juntava durante o dia no pátio, as folhas secas e até flores que recolhia e guardava religiosamente junto ao seu coração. Dizia que era o seu presente para nós.
(Se ao final do dia também forem contemplados com pedrinhas, deixo um conselho: guardem-nas num frasquinho para mais tarde recordarem o quão precioso é este amor.)

Houve um tempo em que o final do dia significava o descanso da ansiedade dela em estarmos ali.
Acredito que ainda seja um bocadinho assim, tenho de acreditar.

Houve um tempo em que ela nos dava a sua mãozinha pequenina e ainda assim enorme.
Deixava bilhetinhos debaixo da nossa almofada, com desenhos, pedidos ou um simples gosto muito de ti. Mais tarde arriscou um amo-te.

Todos os dias fazia questão de provar o seu amor por nós.

Hoje é uma adolescente.
Tudo é diferente e no fundo tudo se mantém.

O amor é o mesmo, ou maior se é que é possível.
Mas dentro deste amor cabem outros sentimentos. Novas emoções que estão numa desarrumação, as flutuações de humor…ui!

Eu sei que a adolescência precisa de muitas oportunidades para aprender os seus próprios erros. O afastamento é natural e necessário para testarem a sua independência. Mas às vezes é tão difícil, doloroso até. É muita adrenalina e excesso de confiança.
E eu que nem sempre estou à altura.

Há dias em que mais parece que vivo numa competição de berros e não me consigo fazer ouvir.
De repente parece que os nossos filhos ficam surdos, selecionam apenas algumas palavras que dizemos, normalmente as que lhes convém mais.
Dizer trezentas mil vezes as mesmas palavras … e depois repetir tudo outra vez, não se pode dizer que é uma emoção.
De um lado o contestar constantemente, do outro, aprender a dar liberdade, aprender a relativizar a dose de rebeldia e esperar o desafio seguinte. Aprender sobre a tolerância.

Há dias completamente impossíveis de gerir. Mesmo!

Apesar de tudo, é uma filha para cima de espetacular, humilde o suficiente para pedir desculpa e adulta para entender o meu pânico.

Acredito que a profundidade das raízes deste amor está lá, mesmo que esta idade seja marcada pela revolta. Tenho de acreditar.

Ela sabe que é o nosso bem mais precioso, a nossa âncora na vida, quero acreditar que somos a dela também.

E meu amorzinho, se um dia leres o que aqui escrevo, naquele bocadinho de tempo que te desligas das tuas preferências virtuais e te ligas um bocadinho a nós, quero que saibas que não diminuímos de tamanho, continuamos enormes para ti.



1 comentário:

  1. Todos nós já passamos por isto, tb já fomos adolescentes...

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