O tempo aqui não é
importante (até porque não se pergunta a uma senhora a sua idade).
Mas é nesse mesmo tempo
que me sinto uma pessoa com muita sorte!
Não vou dizer que foi a
vida que me proporcionou o que tenho hoje. A construção de nós próprios começa
em casa, enquanto vivemos naquele ninho entre mãe e pai. A eles estarei
eternamente grata.
Sim, sou uma pessoa com
sorte!!! E é sobre este ninho que escrevo hoje.
É difícil encontrar as
palavras certas, sente-se cá dentro, é só nosso, preenche-nos, completa-nos,
dia após dia.
Este ninho é o meu colo, desde que me lembro que existo, Nele já chorei, já ri, já o rejeitei para me
armar em corajosa e dona do meu nariz, mas a ele sempre retornei e continuo a
retornar.
Neste ninho não ouço as
palavras que quero ouvir, mas as que preciso ouvir, e quero tê-lo ali para
sempre!
E como todos os ninhos,
também este é meu o porto de abrigo.
Pode acontecer tudo e
nada, mas sei que é lá que me esperam, por esse tudo e por esse nada, sempre.
Neste ninho em que me
lamberam as feridas (e foram algumas), neste ninho em me ensinaram a ser a
pessoa que sou hoje, sei que em algum momento(s) vos desiludi, porque nesta
perfeição do vosso ninho, sou imperfeita.
Neste ninho tornei-me
mulher, compassadamente. Aprendi (e ainda aprendo) a jornada da vida, na mão
trago o mapa que me ensinaram a desenhar.
E de cada vez que me afasto,
o meu mundo fica mais pequenino, porque privada deste amor, fico como que
mutilada, privada de um dos meus sentidos.
Sou assim, porque de todo o amor que
tenho, sinto dependência!
Deste ninho quero embalo
a vida toda, ainda sou a vossa menina, esqueçam as rugas, as vossas e as minhas.
Já disse que sou uma pessoa
com sorte?
Muito, mesmo muito bonito.
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