Podia vir aqui falar dos porquês de andar fora desta casa.
Podia vir contar histórias da vida, passadas neste tempo em
que por aqui não estou.
Podia muita coisa, mas sabes, não me apetece!
O teu mano mais velho foi, em algum tempo, sacana comigo.
Aplicou rasteiras quando eu ainda me erguia de uma ou outra trapaça que veio
com ele. Ao começar de cada trampolinice, eu pensava que ele me castigava,
teimava em roubar-me as alegrias e as esperanças que eu construí.
Mas o teu mano 2018, sendo mais velho que tu, é sábio. Agora
que ele cede o seu lugar a ti, percebo que, durante algum tempo, o via como
traiçoeiro. Não foi nada disso, pelo menos comigo.
Agora vejo tudo de outra perspetiva. Não sei se por estar
aqui hoje, melhor do que estava há um ano, ou se, por tal como ele, estar mais
velha e também mais resiliente.
Sei que as rasteiras não eram reprimenda, mas sim um
ensinamento. Aprender a ouvir os sinais.
Estamos a poucos dias da sua despedida e eu tenho esta mania
ou fraqueza, quando penso com amedrontamento no que virá contigo, Não é por
seres tu. Já o era com os teus manos velhinhos. Sou eu, é uma falha, uma
imperfeição, se preferires.
As emoções estão em maré-cheia no meu coração, umas boas,
outras com a etiqueta da desilusão para sempre pendurada. Muitas coisas
difíceis de esquecer, outras já esqueci. O teu mano ensinou-me a deixar ir o
que não me acrescenta… é pesado, ainda o é.
Tenho a sorte de ter por perto as pessoas que mais importam
e sempre me apoiam, incondicionalmente. Assim tudo é mais simples, menos
violento.
O que te peço, quando chegares, é que repares como te
espero: de braços abertos.
Olha-me nos olhos e diz-me que não és de rasteiras. Que me
irás apresentar novas lições, sem que eu tombe.
E já agora, peço que me ajudes a encontrar um jeito de
esquecer as amarguras do passado e a controlar as ansiedades com o futuro.
Ensina-me que viver o agora é, talvez, um dos caminhos que nos leva ao
bem-estar, mental e físico.
O teu irmão ainda não partiu, mas, embora travesso e
desobediente, já sinto a sua falta pelos momentos em que me ergui com a sua
advertência.
Por tudo isto, vem 2019, bem vindo!
Faz a tua parte. Eu prometo fazer a minha.