As rugas da tua face enterneciam ainda mais o meu coração.
Não sei explicar o que sentia quando o teu rosto encostava
na minha mão, num aconchego delicado, doce e meigo.
Fecho os olhos e ainda sinto as linhas vincadas da tua face,
sobre a pele fina onde estavam escritas as tristezas e alegrias que viveste até
ali. As guerras, as vitórias, as mágoas, o perdão, toda a tua vivência escrita nesse
alinhamento.
Os teus cabelos prateados deixavam em mim a certeza de que o
tempo é voraz, aniquila-nos alguns sonhos…despe-nos da carne, seca-nos os ossos…emagrece-nos
as mãos…e sei lá mais o quê!
Olhava para ti e perguntava, em silêncio, se esse era um
exercício doloroso, o de envelhecer.
Eras todo o tempo, passado, presente e futuro. O teu corpo minguado
pelos anos confirmava a pessoa trabalhadora que foste. Choravas muitas vezes
nestas alturas, acho que pela saudade causada pelas memórias que guardavas em
ti e pela saudade que causarias em nós quando já não te fosse permitido
partilhar connosco, todos os afetos e dons que conquistaste.
Deixaste em nós, em mim de certeza, um grande legado
emocional e, deve ser por isso que, todos os dias, me lembro de ti. Todos os
dias sofro remorsos por não ter afagado mais vezes o teu rosto, um pesar enorme
por não ter mais o teu sorriso puro sobre mim.
Esta saudade, esta ausência e vazio aperta muito, tanto e
dói que se farta!
(Aos meus avós)