A ti, meu amor, quando me julgas por achares que a minha idade me torna incapaz de te compreender.
Enganas-te.
Cada ruga do meu rosto equivale a um sorriso, a uma lágrima, a um ensinamento.
Significam anos, é verdade, mas foi nestes quarentas que me fiz o que sou hoje.
Por isso, não me julgues.
Acaricia antes as minhas rugas. Faz elas valerem a pena, afinal, em cada um desses traços na minha pele, está o meu percurso até agora e nele estás tu também.
A nós meu amor, dedico este texto:
Quantos anos tenho?
Tenho a idade em que as coisas se olham com mais calma, mas
com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a se acariciar com os
dedos e as ilusões se tornam esperança.
Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma louca labareda,
ansiosa para se consumir no fogo de uma paixão desejada. E outras, é um remanso
de paz, como o entardecer na praia.
Quantos anos tenho? Não preciso de um número marcar, pois
meus desejos alcançados, as lágrimas que pelo caminho derramei ao ver minhas
ilusões quebradas…
Valem muito mais do que isso.
O que importa se fizer vinte, quarenta, ou sessenta!
O que importa é a idade que sinto.
Tenho os anos que preciso para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pelo atalho, pois levo comigo a
experiência adquirida e a força de meus desejos.
Quantos anos tenho? Isso a quem importa!
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que
quero e sinto.
José Saramago
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