O Coco é um menino grande, mas frágil que foi pedir socorro
aos habitantes de uma aldeia, por altura do Natal.
O antigo dono foi deixa-lo perto da aldeia das Soalheiras,
ou talvez mesmo dentro da aldeia, sem que o vissem faze-lo. Cobardia e muita
falta de amor no coração. A bondade de um homem vê-se na forma como trata os
animais…é o que dizem e o Coco acreditou, até ao dia em que foi deixado para
trás, entregue à sua própria sorte. Não se sabe porquê ou quem sabe não quer
dizer. Não importa a razão. Nenhuma é aceitável.
O Coco foi como que um presente de Natal para as Soalheiras,
pelo menos para quem acreditou na sua recuperação.
O Coco estava fraco, sem água e sem alimento, não sabemos há
quanto tempo. Sujo, com uma ferida feia do seu lado esquerdo. O Coco trazia uma
corrente em volta do pescoço, demasiado pesada, sem que algum bom senso o
justifique. Foi-lhe tirada, mas a marca ficará para sempre. Os passinhos que dá
são sempre, sempre em direção a alguém. O Coco pede desesperadamente amor. O
Coco é um cãozinho magoado.
Percebemos que o A e a L estavam a cuidar dele, mas daí a um
dia iriam deixar a aldeia e o Coco ficaria desamparado, outra vez.
Resolvemos então cuidar dele, enquanto por ali estivemos. Nem
podia ser de outra forma! Foram quatro dias a viver para a recuperação dele e
voltaríamos a fazê-lo!
O Coco teve uma casinha só para ele que o protegeu das
noites frias. Comia quatro vezes ao dia, alimento seco, mas também a carninha com
arroz que ele começou a conseguir mastigar, depois de ganhar força suficiente
para o fazer.
O Coco adora brócolos! Tem alguns dentes partidos. Não
sabemos porquê…ou quem sabe não quer dizer…
A ferida foi limpa todos os dias, o Coco adora a água nem
quente nem fria no corpo, agora mais forte…o Coco agradece fechando os olhos e
respirando fundo…tal como agradece enquanto come, olhando nos nossos olhos e
abanando a cauda.
Quatro dias tão intensos. Quatro dias em que o Coco se
transformou.
O Coco já dá beijinhos nas mãos. Já arrisca subir e descer
as ruas das Soalheiras. O Coco já se anima quando vê os outros cães vizinhos e
reaprendeu a abanar a cauda, já bem enroladinha. O seu pelo ficou quase novo e
recuperou a sua fala…
A despedida de 2018 e a entrada em 2019 foi comemorada com
ele, todos em redor do madeiro que ardia.
O Coco dormia profundamente, aconchegado, descansado, quase
feliz. Dizemos quase, porque ainda é incerto o seu futuro.
O Coco quer acreditar nos humanos. O Coco não é um menino
que guarda rancor. É um menino com esperança.
Na aldeia não seria difícil o Coco transformar-se na
mascote…entre a ajuda de todos tudo se tornaria fácil, mas o Coco não culpa
ninguém. O Coco só quer ser feliz, com um dono ou muitos donos. Pede pouco e
não insiste.
Esta troca de mimos, entre nós e o Coco durou quatro dias.
E quem pergunta porque o deixamos ali…já temos um canito,
salvo de um canil, para abate. Também nós acreditamos…
O momento da despedida foi difícil. Deixamo-lo sem saber
muito bem como seria o seu futuro.
Forçamo-nos a não voltar ao lugar onde ele ficou...
Um dos habitantes das Soalheiras ficou com ele até chegar a
GNR e verificar as questões ligadas ao abandono do Coco. Quem ficou com ele
naquela noite disse não o deixar ir se fosse para um canil…quer sim que um veterinário
cuide da ferida, porque das outras, as internas, o Coco saberá faze-lo com a
ajuda dos humanos.
O Coco é um menino grande, mas continua frágil.
Voltamos a Lisboa e esperamos receber boas notícias deste
bebezola que tem tanto amor para dar.
O Coco chegou, pedindo socorro, pedindo conforto.
O Coco foi batizado pela D. E acreditem, em quatro dias
começou a reconhecer o seu novo nome, se é que alguma vez o antigo dono lhe deu
algum.
O Coco é lindo e
merece mimo e acreditem que ele sabe retribuir muitíssimo bem.
O Coco é emocionante, enternecedor.
O Coco deixou-nos em lágrimas e ainda deixa.
Não desistas Coco, por favor acredita.
Nós voltamos em breve para te devolver em mimos todo o amor
que nos ofereceste.
Este é o coco, já com alguns dias de muito amor.
Nao tenho palavras ler tudo isto outra vez ainda me deixa com as lagrimas a escorrer pelo rosto...lindo
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