terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A promessa ao Coco e o final feliz!


Não sei muito bem como explicar o misto de emoções que sinto desde que conheci o Coco.

O Coco estava ali. no nosso caminho a pedir, desesperadamente, SOCORRO.

Ele não chorava, mas o Coco era, visivelmente, um cão muito triste.

Era dia 29, perto do final do ano.

Os destinos cruzam-se e, tantas vezes, passam-nos ao lado, por distração ou por outra razão superior. Mas ali, o destino do Coco e o nosso cruzou-se e deixou nós demasiado fortes que se pudessem algum dia desatar.

A história dele já a contei, não vou repeti-la.
Se quiserem, voltem a lê-la para sentir melhor a dor dele.

A sua capacidade de suportar a dor e sobreviver, e a dor de quem por ele se interessou (verdadeiramente), é um exemplo. O Coco é um sobrevivente.

Foram muitas as portas a que batemos, foram muitos os telefonemas que fizemos, pedimos por favor, pedimos muito. Muito mesmo.

Todas noites adormecia a pensar nele. Chorei, não me envergonho disso.

Nunca lhe perdemos o rasto. Entre as linhas de telefone percebemos como os animais estão indefesos, não há lei que os proteja. A lei que proíbe o fim do abate em canis, existe, mas é só isso. Não há fiscalização em muitos canis do país, não há, simplesmente não há. 

Os animais são ali deixados para parecer que têm um sítio abrigado ou alguém que lhes dê amor...pois...visitem, de vez em vez, canis ou centros de recolha no país e vejam por vocês próprios...conseguem sequer imaginar?? São prisões. Se o homem não gosta de prisões porque gostará um animal?

A solução? Existem algumas, como a esterelização...fiscalização pura e dura, multas elevadas, financiamentos, protocolos...mas o Governo deste país não quer, não é prioridade...

Podia falar aqui de um caso em concreto, mas não o farei, pelo menos agora.
Agora o tempo é do Coco e o de saborear com ele a liberdade.

Sim, a liberdade do Coco! Conseguimos! Não fomos muitos, mas conseguimos!

O Coco foi colocado nos estaleiros da Câmara da Idanha a aguardar vaga para um canil, um daqueles cuja fiscalização está no seu limite...sim, o Coco acabaria por morrer, depois de lhe darmos esperança...

Durante duas semanas, lutamos por ele. 
Ontem foi o dia em que o coração dele aqueceu novamente, o dia em que ele, de novo, acredita na bondade do homem.
A diferença querido Coco, a grande diferença, é que desta vez é definitiva.

Não terás mais dono sem coração, dono que te bate, que parte os poucos dentinhos que resistiram, que finge gostar de ti para acreditares nele e lhe prestares vassalagem. Isso meu amor, acabou!

Finalmente vais ter a família que mereces.
Vês? Não desistimos de ti, tal como te prometi quando me despedi.

Sei que vais olhar nos olhos da R. da APAAE, a verdadeira responsável pela tua salvação e logo ali se apaixonará por ti e perceberá a tua forma única de mostrar gratidão. Só quem teve o privilégo de te conhecer, na mais dura das tuas batalhas, sabe o quão tu és grato. 

A R. da APAAE, foi a pessoa que mais me compreendeu desde que te conheci...ela não escutou as minhas lágrimas pelo telefone, mas escutou, incansavelmente o meu pedido de socorro, enquanto estavas preso...a R. salva companheiros como tu, e só por isso já é uma das poucas super mulheres que conheço. Gostava de ter um bocadinho da garra dela.

Meu Coco lindão, as pulgas que te fizeram companhia enquanto andaste sozinho, enquanto não encontraste o caminho guia até nós, serão apenas uma lembrança longinqua para ti. A tua humildade perante todos, mesmo faminto e indefeso, são a prova de como terno tu és.

A tua história, que se tornou também nossa, mostrou-me muito sobre as pessoas.
Sabes que mais? São poucos os que olham para fora da sua bolha. Ou porque não querem, ou não se interessam, ou não acrediram que conseguiríamos salvar-te e por isso não valeria a partilha do teu pedido de socorro, ou porque não querem histórias destas no seu mural ou nos instastories...

Como dizem, se a doença do próximo não te causar dor, então a tua doença é pior do que a dele...

Foi triste assistir a isso. Revoltei-me muitas vezes, em silêncio! Mas nada se compara ao tormento que viveste desde que te abandonaram.

Ninguém sabe pelo que passaste antes de te encontrarmos, o que tu já sofreste viverá em ti. Sempre.
Mas o amor que te espera apaziguará o teu medo. Prometemos, acredita.

Coco, meu querido Coco...que vontade de te abraçar e de te olhar nos olhos e pedir-te que acredites no homem, agora a sério!

Comporta-te perante a tua nova dona, sei que o vais fazer, és tão calminho, tão passivo.
És tu, único. Para sempre o Coco, mesmo que a tua dona te rebatize! A C. será a tua dona e fico muito contente com a tua sorte!

A palavra AMOR, só agora a irás conhecer...mas é sempre tempo. Somos tantos apaixonados por ti...talvez o saibas, afinal tu não falas, mas nós, os que te salvamos ouvimos o teu socorro.

Obrigada Coco por esta lição de vida.
Tenho os olhos a segurar as lágrimas, mas desta vez são de uma extrema alegria que acho que a consegues sentir...

O Coco chegou ontem à APAAE, magro, desidratado...mas sempre terno, doce, muito, muito tímido...está com antibiótico...
O Coco será submetido a uma pequena cirurgia por causa da ferida que trazia e depois, a sua família definitiva espera-o cheia de amor para lhe oferecer.  

O Coco já é um cãozinho quase idoso, talvez 8 aninhos. As batidas do seu coração indicam-o. Foi um cão de matilha, de caça ao javali...isso diz muito sobre o seu antigo "dono".

Obrigada a todos os que partilharam a história do Coco (poucos...).
Obrigada às associações que protegem os animais e que foram partilhando todo o processo.

Obrigada à Câmara da Idanha, que no final do processo foi sensível ao caso do Coco.
A vocês, em especial, peço-vos que lutem para dar a estes animais um lugar digno e que se afastem da linha de pensamento adotada pelo canil de Proença, uma prisão lotada, um Auchewitze, segundo ouvi...

Obrigada C.

Obrigada querida R.! Obrigada do coração. Em breve terei o prazer de a conhecer pessoalmente!

A APAAE - Associação de Proteção e Apoio ao Animal Errante de Castelo Branco tem um projeto único que, como todas as organizações sem fins lucrativos, precisa da ajuda de todos para continuar a ajudar mais companheiros do Coco.
São todos bem vindos, ajudem, custa pouco. Saem da vossa bolha, só vos faz bem!
Eu saí e foi tão bom.  

Por fim, ao suposto dono que causou tamanha dor ao Coco...os cães não julgam, mas o homem sim.
Carregue o seu fardo na solidão do seu coração. Deve ser bem pesado.





Aqui está o coco, quando chegou à APAAE, vindo de um lugar triste, para onde jamais voltará!






  

1 comentário:

  1. Catarina Almeida Tomé9 de abril de 2019 às 23:22

    Que dizer choro choro ainda hoje vivo as suas palavras...

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